A minha querida irmã costuma dizer que para ela o trabalho e a rotina do dia a dia passam mais rápido e de forma menos esforçada se tiveres um objectivo no final. Não quer dizer que seja no final desse dia, pode ser um objectivo que te compense a médio ou longo prazo… Passar um fim de semana prolongado naquele hotel que há tanto tempo anda debaixo de olho, comprar uns sapatos novos ou só uma coisa mais simples como um banho de espuma no final do dia daqueles mesmo com água bem quente, espuma até aos olhos e sem telemóvel a tocar.
Este ano o meu objectivo (um dos) era finalmente visitar o L’AND, mais um bom conselho da minha sis.
À chegada acompanharam-nos a uma mesa recatada e tranquila a nosso pedido para que os restantes clientes não se sentissem incomodados com o constante clack da máquina fotográfica. A atmosfera que se gera ao jantar num local como este, com a tranquilidade da noite em pleno Alentejo não deve ser interrompida por barulhos inconvenientes. Há qualquer coisa de incrível numa mesa bem posta que para mim funciona como terapia antistress. Adoro quando sei que sou recebida por pormenores como uma toalha passada a ferro depois de estendida na mesa, o jogo de copos colocado de forma estratégica e bem ponderada em torno do prato ou os talheres dispostos rigorosamente ao milímetro.
Decidimos que um dia não são dias, venha de lá esse menu de degustação…
Sopa de peixe da costa vicentina com tosta fina de pão alentejano com lagostim braseado e maionese de açafrão e lima.
Tataki de atum em mil folhas, compota de cebola roxa e chutney de manga com salada de rabano, coentros e bergamota.
Salmonete de Setúbal na salamandra com açorda de berbigão, lulas salteadas e caldo de caldeirada com salada crocante.
Lombinho de porco de raça alentejana assado lentamente, gratin de couve-flor, salteado de espargos, ervilha e morcela regional.
Tiramisu de pistacho com chocolate branco e cerejas confitadas, gelado de café e crocante de chocolate tainori.
Duo de cenoura sobre terra de pistacho com espuma de açafrão e gengibre e gelado de mel.

A tranquilidade do Alentejo fica entranhada em quem por lá passa, a simpatia das pessoas é especial e muito típica. No L’AND fomos recebidos de forma inigualável e irrepreensível. Uma experiência mesmo especial.
Meses mais tarde soubemos que o Chef Miguel Laffan perdeu a estrela Michelin no seu L’AND e ficamos francamente decepcionados com a decisão dos inspectores do famoso guia. Começo a ter dúvidas sobre o que na realidade é valorizado na avaliação que fazem aos restaurantes que visitam. Cá no Porto os locais premiados com estrela e os “wanna be a michelin star restaurant” são sítios bem mais impessoais em que os empregados de mesa adoptam uma postura demasiado profissional e muito pouco calorosa. No L’AND isso não acontece. Senti-me à vontade. Amei!
Boas garfadas,
Eva